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MURILO ANTUNES

COMO SE A VIDA FOSSE MÚSICA

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“O sertão me deu ensinamentos práticos.

O primeiro é a simplicidade.

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MINHA HISTÓRIA

A beleza de Pedra Azul sob a lente de Gabriel Vieira

Murilo Antunes Fernandes de Oliveira, Meus pais me batizaram com este nome comprido.
Era 1950 quando nascí em Pedra Azul, Vale do Jequitinhonha, nordeste de Minas. Terra pedrenta, mas graciosa. Na letra de “Tesouro da Juventude” eu entrego o ouro: “...foi em Pedra Azul e em toda parte onde tive o que sou” .
Sobrinho-bisneto do lobisomem dizem que sou. Meio lobo, meio homem. Bicho da Carneira em noite sem lua, na agrura do breu. Entidade estranha que vasculha a escuridão, inocula mistério em nosso desaperceber. Gosto de espalhar a lenda que o povo gosta.

Aos 7 anos, embarquei para Montes Claros, princesa do Norte: maruja, mestiça, poeirenta, cor de pequi, amarelo ouro e miséria. A primeira parceria com TAVINHO MOURA tem, no refrão, os versos de domínio público que vieram de lá: Meu facão guarani quebrou na ponta quebrou no meio / eu falei pra morena que o trem tá feio.
É também de lá que vem outro parceiro querido, BETO GUEDES. 

Em 1962, vi pela primeira vez o mar, a TV e Belo Horizonte. Foi um ano mágico. O mar era maior que o sertão. Na TV, vi Pelé. BH ainda não era a hora.
Aos 14, tomei um susto sonoro: era meio-dia, eu voltava da aula quando ouvi ao longe, pela primeira vez, os Beatles . Enquanto eu crescia, eles dominavam o mundo e meu coração adolescente.

Belo Horizonte entrou em minha vida aos 15 anos. Atmosfera azul, montanhas se opondo ao que tinha em mente até então, a planura do sertão. A capital de Minas me reservava três novos sustos sonoros: Milton Nascimento, Toninho Horta e Tavinho Moura. Eles abriram os túneis da minha percepção musical.

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1953: ainda em Pedra Azul, com o irmão Joe e primos

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Avenida principal de Pedra Azul.

Murilo nasceu na quarta casa à direita

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Murilo Antunes. Foto de Cristiano Quintino

Aos 18, comecei a compor. Hoje, aos 70, tenho mais de 300 músicas gravadas. E a fortuna de ser um dos letristas reconhecidos do Clube da Esquina. No meu fazer poético, sempre tive influência, admiração e a amizade de Fernando Brant, Marcio Borges e Ronaldo Bastos. No meio do caminho, tinha Flávio Venturini. Nascente foi a primeira pérola que ele me deu para letrar. Hoje, é com ele que tenho o maior número de composições. Beto Guedes e Lô Borges completam o primeiro time de parceiros que cultivo até hoje.
Minha alegria é ser parceiro também de compositores de várias gerações da MPB: meu filho João Antunes, Sirlan, Tavinho Moura, Flávio Venturini, Toninho Horta, Flavio Henrique, Beto Guedes, Lô Borges, Nivaldo Ornelas , Wagner Tiso, Nelson Angelo, Vander Lee,  Sergio Santos, Paulinho Pedra Azul, Juarez Moreira, Celso Moreira, Telo Borges, Claudio Nucci, Andre Mehmari, Vitor Santana, Beto Lopes, Rodrigo Borges, Thiago Delegado, Marcos Frederico, Kadu Vianna, Geraldo Vianna, Célio Balona, Paulo Henrique, Túlio Mourão, Claudio Venturini, Vermelho, Yuri Popoff,  Natan Marques, Otávio Toledo, Guilherme Rondon, Tunai, Gilvan Oliveira,  Kléber Alves, Vaninho Vieira, Rái Medrado, Léo Lopes, Marcelo Godoy, Luis Carlos Sá, Maestro Leo Cunha, Pablo Castro, Sergio Oly, Fernando Oly.
​Uns famosos, outros nem tanto. O que não tem a mínima importância para quem ama o ofício de compor.
Como poeta, publiquei 3 livros, em edições esgotadas: “O Gavião e a Serpente” (1979), “Musamúsica”(1990), “Breve Balada para Viola e Sangue” (Caravana Grupo Editorial 2020), além de diversas publicações em revistas e jornais literários.  As apresentações de poesia e música tenho feito desde a década de 1980.
Uma coisa é certa: não faço poesia quando quero, mas quando ELA quer.


Verbete na Enciclopédia da Música Brasileira, de Ricardo Cravo Albin., confesso o prazer de ter canções interpretadas por Milton Nascimento, Leila Pinheiro, Nana Caymmi, Jane Duboc, Maria Rita, Alcione, Hebe Camargo, MPB-4,  14 Bis, Cobra Coral, Legião Urbana, Djavan, Mart’nália, Paulinho Pedra Azul, Michael Brecker, Seu Jorge, Banda de Pau e Corda, Simone, Ed Motta, Emílio Santiago, entre muitos e muitos outros, além das gravações preciosas dos parceiros citados anteriormente.
Sempre reparei a turbulência do mundo. A correnteza dos dias. Tudo teria importância sob o olhar do poeta.
Caminhava sem medo pelas ruas, cantava nas esquinas com os amigos, fazia serenata na capital mineira.  Saia pelas noites com pés alados e pensamento nas estrelas. 
E a borduna descia nos porões da ditadura brasileira.
Mas, em compensação, aos 17 anos, fui surpreendido pela música seminal de minas. Com ela, iria ganhar o mundo.

Com Sirlan, fiz minha primeira canção. Também com ele, a segunda, que nos levou ao Festival Internacional da Canção, em 1972, com a música, Viva Zapátria. Levou Menção Honrosa e tivemos o desprazer de sermos interrogados pela censura federal. O tempo era esse. 
No cinema, trabalhei na produção do longa “Cabaret Mineiro”, premiado no Festival de Gramado. Fiz parcerias com Tavinho Moura para o filme “Perdida”, ambos de Carlos Alberto Prates Correia, e para o longa “O Bandido Antonio Dó”, de Paulo Leite Soares. 
Trabalhei como ator no longa “Idolatrada”, de Paulo Augusto Gomes, e nos curtas “Irmãos Piriá”, de Luis Alberto Sartori e “Solidão”, de Aluizio Sales Jr. Fui também assistente de direção no curta-metragem “Famigerado”, de Aluizio Salles Jr, que conta um conto de Guimarães Rosa e é esplendoroso.
Tive músicas incluídas em novelas. “Cabocla”, “Dona Beija”, “Vale Tudo”, entre várias outras. Fui redator, durante 6 anos, do programa Arrumação, apresentado por Saulo Laranjeira, na Rede Minas e no SBT. 
Em abril de 2019, fui honrado com o título de Cidadão Honorário de Belo Horizonte, indicado pelo vereador Arnaldo Godoy.
No mais, disponho aqui músicas e poesia para quem quiser conhecer um pouco mais de um sertanejo pop, segundo meu grande amigo e poeta, Lucas Guimaraens.
Sei lá se sou. 

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Manuscrito da música Nascente. Parceria com Flávio Venturini.

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Gravação de áudio no set do filme "Irmãos Piriá", de Luis Alberto Sartori. 1980

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“As pessoas deixavam o tempo passar, faziam as coisas no seu devido tempo, na sua cadência, sem sofreguidão. Isso eu aprendi pra sempre”.

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Fernando Brant, Chico Amaral, Murilo Antunes, Ronaldo Bastos, Marcio Borges, Tavinho Moura 

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LIVROS

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"O GAVIÃO E A SERPENTE"

Primeiro livro edição independente, 1979.

Assim como na música, que são 12 tons e semitons, o livro é composto por 12 estrofes e 12 gravuras em linóleo. As artes são de Paulo Giordano. A edição é exclusiva de 100 exemplares numerados e assinados, lançada pela Edições Giordano.

Segundo livro lançado, 1998.

"MUSAMÚSICA"

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Paulo Giordano em seu ateliê

"PALAVRAS MUSICAIS"

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"BREVE BALADA PARA VIOLA E SANGUE"

Edição CARAVANA Grupo Editorial 2020

VÍDEOS

Apresentações - Murilo Antunes
Poema ao Vivo - Strawberry Fields

Poema ao Vivo - Strawberry Fields

03:15
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POESIA E CLARONE (MURILO ANTUNES E ANDRÉ MEHMARI)

POESIA E CLARONE (MURILO ANTUNES E ANDRÉ MEHMARI)

03:08
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Flávio Venturini - Nascente (Flávio Venturini & M.Antunes)

Flávio Venturini - Nascente (Flávio Venturini & M.Antunes)

03:44
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Cobra Coral e Toninho Horta - Quadros Modernos

Cobra Coral e Toninho Horta - Quadros Modernos

03:24
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Flavio Venturini & Leila Pinheiro - Bésame

Flavio Venturini & Leila Pinheiro - Bésame

04:22
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14 Bis - Uma Velha Canção Rock'N' Roll (Ao Vivo)

14 Bis - Uma Velha Canção Rock'N' Roll (Ao Vivo)

04:41
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Andarilho de Luz - Flávio Venturini

Andarilho de Luz - Flávio Venturini

04:39
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João Bosco, "Besame", de Flavio Venturini e Murilo Antunes

João Bosco, "Besame", de Flavio Venturini e Murilo Antunes

03:26
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LIVES

Lives - Murilo Antunes
Assista agora

Nesta live do Flavio ventureine, que foi ao ar em 25 de julho de 2020,
são apresentadas 11 musicas em parceria com o Murilo Antunes.

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"O processo criativo na MPB", Live entre os parceiros Murilo Antunes e Paulo Henrique.

MURILO E O CINEMA

FILME "IRMÃOS PIRIÁ"

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Gravação de áudio no set do filme
"Irmãos Piriá", de Luis Alberto Sartori. 1980.

Curta metragem Irmãos Piriá, dirigido por Luiz Alberto Sartori, em que Murilo Antunes e um dos atores principais.
Trilha de Toninho Horta.

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FILME "SOLIDÃO"

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Matéria sobre o filme "Solidão", de Aluizio Salles Jr. Murilo contracena com Lucia Schetino.

FILME "PERDIDA"

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Perdida ganhou 11 prêmios em Gramado, inclusive melhor Trilha Sonora.

(Mauá de Baixo), Parceria com Tavinho Moura faz parte
da trilha sonora de "perdida". Gravação de 1975

No filme "Perdida", de Carlos Alberto Prates Correia, Tavinho Moura incluiu nossa parceria na trilha sonora. 1975

FILME "CABARET MINEIRO"

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"Cabaret Mineiro", longa metragem de Carlos Alberto
Prates Correa, vencedor de muitos prêmios no
Festival de Gramado. Trilha de Tavinho Moura,
estrelado por Tania Alves, Tamara Taxman e grande
elenco. Murilo trabalhou na produção. 1989

Filmado em Grão Mogol, Contria e Montes Claros, o ator principal é Nelson Dantas.

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FILME "FAMIGERADO"

Murilo foi assistente de direção. 1991

GALERIA

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QUADROS MODERNOS

Murilo Antunes/ Toninho Horta/ Flávio Venturini

Pode ser

Flores de Monet

Mar de girassóis

Tudo é tão comum

Sem ter você

Pode ser

Tela de Guignard

Sol de Renoir

Cores de cristal iluminando o dia

Pode ser

Filme de Godard

Torres de Gaudi

Um desenho a giz

Vou ser feliz

Pode ser

E que seja assim

Se é pra sonhar

Não seja no fim

 

Pode ser

Chuva da manhã

Curvas de Rodin

Tudo é tão comum

Sem ter você

Pode ser

Sonhos de Dali

Traços de Miró

Só a sua luz me ilumina a vida

Pode ser

O Abaporu

Portinari azul

Tudo é tão igual

É tão comum

Pode ser o que imaginar

Sem você aqui

Só resta sonhar

UMA VELHA CANÇÃO ROCK'N ROLL

Murilo Antunes/ Vermelho/ Flávio Venturini

Olhe

Oh, venha

Solte seu corpo no mundo

 

Dance cada instante

Brinque comigo de novo

 

Nessa estrada

Um pé nas nuvens

Outro pé noutro lugar

 

Uma saudade, uma viagem

Onde vai meu coração?

 

Saiba como ser livre

Todo momento da vida

 

Viva cada instante

Dia após dia, após dia

 

Nessa estrada

Um pé nas nuvens

Outro pé noutro lugar

 

Uma saudade, uma viagem

Onde vai meu coração?

 

Inda hoje, inda bem no caminho

Vem alguém, mais alguém, muito mais

Canto alegre, não sigo sozinho

Uma velha canção rock'n roll

 

Inda vem mais alguém no caminho

É alguém que não sai nunca mais

É você tão feliz e sozinho

Uma eterna canção rock'n roll

VIVA ZAPATRIA

primeira música gravada, sucesso no Festival Internacional da Canção, 1972. Sirlan e Murilo Antunes. Aqui cantada por Sirlan e Pablo Castro. Compõe o dvd "Como se a vida fosse música.". Arranjo de João Antunes. 

VIVA ZAPATRIA

Sirlan e Pablo Castro

Esse meu sangue fervendo de amor
Aterrizam os falcões, onde estou?
Carabinas, sorriso, onde estou?

Um compromisso a sirene chamou
Duplicatas, meu senso de humor
Se perdeu na cidade onde estou.

Viva Zapátria, saudou esse meu senhor
Beijos, abraços, ano um chegou
Salve Zapátria, ê, viva Zapátria, ê
Esta cidade foi uma herança só.

Viva Zapátria, saudando o senhor
Horizonte aberto onde estou
Esta América mãe onde estou.

SUPER HERÓI

Murilo Antunes/Sirlan

Se acontecer num futuro qualquer 
Meu herói te chamar, volte atrás
Passado aberto, já vou
Não me aperto, só vou 
Minha sombra visitar
Vai acontecer, nasceu mais um super-herói 
Vai acontecer, nasceu o mais novo herói
Segue em frente, meu herói
Tudo é sensação
Abra sua mão
Você vai salvar o meu jornal
Eu quero salvar o meu jornal da manhã
E amanhã arranjar 
Um lugar para você, meu herói
Vai acontecer, viveu mais um super-herói
Vai acontecer, viveu o mais novo herói
Vira, volta, meu herói
Sua hora vem chegando
Tem alguém querendo te salvar
Teu alguém querendo te salvar
Também eu quero ir salvar o futuro
O futuro tá morrendo, meu herói

Murilo Antunes / Flávio Venturini

Clareia, manhã
O sol vai esconder a clara estrela
Ardente
Pérola do céu refletindo teus olhos
A luz do dia a contemplar teu corpo
Sedento
Louco de prazer e desejos
Ardentes
Clareia, manhã
O sol vai esconder a clara estrela
Ardente
Pérola do céu refletindo teus olhos
A luz do dia a contemplar teu corpo
Sedento
Louco de prazer e desejos
Ardentes

NASCENTE

BESAME

Murilo Antunes / Flávio Venturini

A orquestra já nos chamou

Abri meu coração

Tremeu o chão

Eu vi que era feliz

 

A luz de um cabaré

La noche nuestra

O mundo a rodar

Vem o fogo da paixão nos queimar

 

La luna tropical

O som de um bandonéon

Não me canso de pedir

Besame

Besame mucho mas

ANDARILHO DE LUZ

Murilo Antunes/ Márcio Borges/ Flávio Venturini

Uma estrela caiu

E nos desejou

Um amor maior que os andes

Das geleiras azuis

 

A montanha acordou

E emaranhou

Viajante solitário

Avião e vapor

 

Lua lua luou

E gravou no céu

O seu disco flutuante

Minha vista nevou

 

Andarilho de luz

Veio me trazer

Um sendero luminoso

Gavião e condor

 

Na trincheira do sol

Todos os irmãos

Mesma trilha guerrilheira

Violão e cantor

 

Quem pintou amanhã

Paz de bom pastor

Sentimento quebra gelo

Coração e calor

"Para aqueles que vivenciaram os anos de chumbo da ditadura militar esta é mais uma grande música que marcou época. "Viva Zapátria" foi composta por Sirlan Antônio de Jesus, com letra de Murilo Antunes. Esta canção foi incluída no LP "Profissão de Fé" (1979, Gravadora Continental), que contou com a participação de Flávio Venturini nos teclados e Beto Guedes no baixo, além dos músicos Crispim Del Castia, Robertinho Silva, Jamil Joanes, Toninho Horta, Helvius Vilela, Wagner Tiso, Mauro Senise, MPB-4 e Mauricio Einhorn. 
Sirlan e Murilo defenderam "Viva Zapátria" pela primeira vez no VII FIC, Festival Internacional da Canção, da Rede Globo,  em 1972, que foi lançada pouco depois em um compacto pela Som Livre. Dias antes da apresentação, a dupla havia sido "convidada" a explicar perante à Censura Federal, a razão daquele título, mas acabou convencendo os censores de que a inspiração havia sido um filme realizado em 1952, que possuía o nome "Viva Zapata". Considerado uma das grandes revelações do festival, Sirlan obteve para a canção, apenas uma menção honrosa. Lembro-me bem de Sirlan, pois fomos colegas de trabalho, nos anos 60/70, na saudosa TV Itacolomi de Belo Horizonte, empresa dos Diários Associados. Naquela época era comum vê-lo a dedilhar seu inseparável violão e a cantarolar esta e outras belas composições de sua lavra. Graças a ele fiquei sabendo do famoso "Clube da Esquina", do bairro Santa Tereza, em BH, de onde surgiram uma verdadeira geração de novos talentos como os irmãos Borges (Marilton, Márcio e Lô), Milton Nascimento,  Fernando Brant, Wagner Tiso, Tavinho Moura, Toinho Horta, Beto Guedes, Flavio Venturini, dentre outros. A letra desta canção pode parecer simples, mas cada frase é carregada de significados e sua mensagem de esperança e liberdade era um alento aos que viveram este período bicudo de nossa história. Vale lembrar que a carreira promissora do cantor e compositor Sirlan foi arruinada, por conta dessas perseguições por parte da censura. Após lançar o seu primeiro LP, que teve por título "Profissão de Fé", Sirlan abandonou sua promissora carreira e, segundo soube, vive hoje da produção de gingles publicitários.
E no momento em que um grande clamor popular toma conta do povo brasileiro, que ocupa as ruas do país em busca de seus mais básicos direitos, nada melhor do que rever e ouvir esta bela e atualíssima canção".

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Primeiro disco gravado com parcerias de Murilo Antunes e Sirlan.
Compacto da Som Livre. 1972

POEMAS

Sou do Vale, sim senhor
 
Maio 2020

Casa de junho
Outubro 2020

COVID COVARDE

Hospeda-se no morcego o vírus

              Quanto mais se olha

              Mais ficamos cegos

                                                                      Nada vemos

                                                                      Enquanto se multiplica

                                                                      O seu exército do mal

Invisível

                            Nada risível

                                                         Camuflável

 

O coronavírus

Como quem não quer nada

Contamina tudo

                                          A voz

                                          Os pulmões

                                          Rins Artérias Coração

 

Leva indistintamente todos para o buraco

 

                            A cova arde

                            A covid é covarde

 

Não aparece não se mostra ataca no escuro

Do interior humano obscuro

 

                            A cova arde

                            A covid é covarde

SOLO EM NOITE DE LUA

Eu, cheio de música

Invado você, Belo Horizonte

E perfuro suas entranhas

Com a seta envenenada da poesia.

Rastejo sob seu vestido

Oh¡ grande dama noturna que me fareja

Solo amor feito agora

Entre fios, em suas vias ordinárias

Nas dobras da sua carne

 

Eu e Você, cidade feminina, masculina, irmã

Parceira dos meus desenganos

Cúmplice das minhas descobertas.

Na penumbra de seus ossos caminhos

Atrás de sexo...e preguiça.

Em seus lençóis repousa o gozo secreto

Estendido nos varais

O mel de nossas células, as marcas de amor.

A lua vigia novos atos sob a ponte

Sobre a grama, sobretudo, sobre as camas.

Em seus canais escorrem noriaotícias e lodo

OUÇA

O canto das enxurradas imprevistas e lamacentas

O canto dos padeiros, dos vigias

OUÇA

A voz das pedras encobertas.

Descanse por um momento em sua veloz trajetória

E não adormeça

Extraia um canto próprio das esquinas das buzinas

das minas soterradas sob seus pés.

A Serra do Curral, mãe violentada

Volta seu perfil mineral para o longe

O que foi sombra, o que foi serra

Hoje é triste vento sem retorno

 

Eu, cheio de música, invado suas avenidas

Não porto bandeira, nenhuma riqueza comigo

A última lágrima reservo para o fim,

BELO HORIZONTE.

Quando ninguém mais ferir o seu corpo

E você já estiver senil

Será tempo de chorar a ingratidão

De quem habitou sua juventude.

 

A última lágrima reserve para o fim.

SÓ OS ASSASSINOS QUEREM QUE EU MORRA

Este poema é novo, nada hilário

Falo da chacina da Candelária

 

Conheci meninos de rua meninos da roça

meninos isso e aquilo meninos o-que-seja

 

Desde pequeno vejo crianças amordaçadas

Olhos tapados de preto nos jornais

Pixotes adormecidos ao som Taurus 45

 

Escrito em sangue

Este poema é um advento contínuo e violento

jorra

          chora na masmorra

          ao intangível futuro clama

 

Só os assassinos querem que eu morra

Este poema não fala

                                        sente sério

Em riste ao momento demente

                                                            se confessa

Ébrio apoplético catatônico apalermado

 

Meu pais morre ensanguentado sob os sinos da Candelária

Todos se perguntam embaralhados

-  Qual poder absoluto rege os assassinos de meninos?

 

Crianças à mercê de pistoleiros indomáveis

Sem mãe sem paz

À mercê destas zonzas bestas do apocalipse!

ATO DE CONFISSÃO

Sou frouxo

Não mordi a faca da vida

Que a tantos cortou

Não impedi o tsunami de maldades

Que o homem inventou

 

Sou frouxo

Não paralisei palavras hediondas

Crimes preconceituosos

Pedras lançadas contra

O crâneo da inocência

 

Sou frouxo

Por escolher ser lírico

Ao invés de guerrilheiro

Por não ter lido 50 vezes

O Grande Sertão do Rosa

O Cão Sem Plumas do Cabral

 

Não vi o sangue espesso da dor

O lamento gélido do sertanejo

 

Sou frouxo

Não combatí a empáfia

Dos poderosos

                                        Ou se o fiz

Foi apenas com versos gozosos

De nada adiantou cantar

Canções no torvelinho

Das injustiças

 

Para que catei feijão

Quando a fome era de amor?

 

Sou frouxo

 

E não há mais tempo

Para reescrever minha história

 

Então...Assim Seja.

STRAWBERRY FIELDS É UM APELO AOS DESENCANTADOS

A cada copo em brinde, lembrem-se:

meu coração não é seda só: ele RUGE.

Não correspondo ao sorriso amarelo

de ídolos antigos

        hoje

sei que mitos congelam-se no tempo

        idos

        ídolos

        idosos

 

peço a todos que trocam o dia pela noite

e dissipam com um NÃO os males

da natureza humana

a todos que se embaraçam nos fios das canções

e se dissolvem

                        líquidos

                                        nos mares da melodia

        por favor, viajem

mas pousem novamente por perto suas fantasias

        percebam melhor a música

        (rainha dos 5 sentidos)

        não deixem escorrer a vida

        por entre lágrimas e alucinações

só por divagação

        façam uma excursão ao eterno

        e à displicência

MAS VOLTEM

        Ao menos pra cantar uma balada

        e matar a saudade.

PRIMEIRO POEMA NO MAC BOOK

Onde termina o quarto e começa o espaço? 

Onde finda o gozo e explode imenso o amor? 

Palavra estranha 

Invisível inalcançável 

Indivisível 

Só acontece se um e outro 

 

Sorgo da penúria 

Chorume da busca infinita 

A escorrer lentamente entre as coxas 

`as vésperas de um novo gozo 

 

Onde começa onde termina 

o espaço interno o inquieto recomeço 

em eterno alvoroço? 

PÁTRIA-MÃE 

Mães de todo mundo, rogai por nós 

 

Leis desfalecem 

Roubos recrudescem 

Caracteres empalidecem 

 

Já não temos tempo a perder 

Percamos muito tempo no fazer 

O amanhã agora 

 

Assinado 

Filhos desta Pátria-Mãe  

nada gentil 

que tanto padece 

COM LICENÇA, MANUEL BANDEIRA 

Peço licença a Manuel 

Dou bandeira pra dizer  

Menina bonita do vestido verde 

Me dá tua boca pra matar minha sede 

 

A saudade é cedo 

E  o mundo vai além do céu 

 

Nada é meu nada é seu 

Só quero ter luz no breu. 

O VERSO NO BREU

caveira de boi espantalha no brejo. noite escura, de uma
luminosidade negra que apavora.
o tempo ali parece que parou, cristalizado no ar.
momento escuro, e breu é cruel: deixa cada um prever o
que quer, faz o medo dominar. breu tem fantasma, melhor,
tem assombração, intriga, conspiração.


o primeiro tiro ecoa pelo brejo inteiro, afugentando
feras, esterilizando casais, esfriando todos até a
medula.


a voz vem do breu: — ninguém se mexa. tenho muita gente
comigo, todos prontos, com os dedos
no cão. queremos água e carne
bastante pr’umas tantas léguas.
— vamos atrás de um homem de barba,
de fala certa, que andou instigando o povo daqui. quem
der pista, tem prêmio.


soube-se depois de um corpo claro, sob uma árvore,
retalhado de bala, traidoramente denunciado,
oficialmente comemorado.
... tem de tudo no breu.

OPACIDADE

Hoje estou em  silêncio 

Sem mágoa nem amargura  

Descubro o obscuro 

 

Sou folha dormida  

Oxigênio em falta 

Estalo de galho sem ouvinte 

Serpente sem peçonha 

 

Maré vazia estardalha horizonte 

 

Lua inquieta que em rito ouve  

O coaxar da saparia 

 

Agonia solitária na selva do medo 

 

Hoje estou envolto em bruma 

Nenhum dogma ou certeza me abala 

 

A saudade aperta o gatilho da alma 

Tudo se agita e digo nada 

 

Tremor nas mãos 

Suor na cara  

Temor se espalha aos poucos nos poros 

 

Estou insípido inodoro inalvejável 

Não há tigre que me alcance 

Bala perdida que me ache 

 

O amor não me quer 

A ira me corrói 

O vazio ocupa os salões do cérebro 

Sou um rio sem água 

Amazônia no estio 

 

Ponho em dúvida a própria poesia 

Alimento que agora me enfraquece 

Zumbido que ensurdece o lamento  

 

Mas hoje sou silêncio pálido 

Sem mágoa ou amargura 

Durmo 

Até que o tédio passe. 

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DESMANDAMENTOS.
Edição tipográfica única. Impressão de Paulo Giordano,
em papel artesanal.

A N O N I M A T O

Na escuridão do anonimato
Todos se olham
Sendo parte da imensidão

Uns lentos
Cruzam pontos de luz
Outros
Nem sombra são
Não vemos cicatrizes
Não observamos parcos gestos
Nem reprimimos lisuras de estilo

Anônimos somos

Puídos casacos arrastamos
Compondo sombras sem nome
Nas paredes descascadas

Cantigas antigas surpreendem
O breu
Na boca de um pobre feliz
Marmitas
Em mãos famintas
Enquanto rosas roçam Rosa

Beijos, sim, roubados ou não
Porque beijos são
Códigos da noite

Sabemos no entanto
O intuito da lâmina em riste
Ao nosso espanto

Na região das sombras
Nem tristes nem loucos
Anônimos somos

ELEGIA INCOMPLETA À MINHA MÃE ESTHER

escrito no dia do seu aniversário, 21/10/2020. Ela se foi no ano 2002.

A sua face de perfil no hospital

o aparelho verde mostra a fatal pressão a cair

a cair

até

despencar na fatalidade irreversível

foste

mas ficaste

seu coração nunca parou

você impassível, minha mãe

quão diferente do seu alegre cantar ao som

dos inesquecíveis temperos e panelas

na cozinha nortemineira

mendigavas nosso amor em silêncio

alguns ouviam outros não

enquanto eras o esteio daquela família simples

que ganhava o suficiente para o alimento e a roupa

nem luxo nem riqueza

desta pobreza veio a poesia que me deste

em gestos solitários a cerzir sonhos para os filhos

assim como me deste

a visão de mundo em compaixão

a fé no futuro

nada de escuridão

no falar no vestir no andar no ir além

dos pequeninos muros da nossa cidadezinha

nada de sucumbir aos poderosos

o pequeno é imenso

veio de sua sabedoria e zelo

lembro ainda hoje você naquela tarde quente

trazendo da rua um presente

sem pedir sem falar disparou minha sedução pela música

um violão, quando fiz 12 anos

no qual você tocava (e me encantava)

o samba-canção de Dolores Duran “A noite do meu bem”

lembro seu almoço caprichado pra Bituca

a quem tanto admirava

a ponto de fazer a sobremesa trabalhosa

preciosidade maravilhosa, as madalenas

sua paixão infinda pela música

o que também me fez apaixonar

ao conhecer por ela, Noel Rosa, Ari Barroso

Assis Valente, Pixinguinha, Vicente Celestino

Desde menino ouví sua voz maviosa

A cantarolar radiosa entre receitas e roupas

Paro aqui esta elegia. O soluço interrompe

este dia de bom agouro

21 de outubro

Minha mãe Ester faria

96 anos de poesia.

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Álbum de Família

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PALAVRA DO POETA

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Mario Vargas Llosa diz que a nossa civilização atual é a civilização do espetáculo. O que ele quer dizer com isso? É a civilização de um mundo onde o primeiro lugar na tabela de valores vigentes é ocupado pelo entretenimento, onde divertir-se, escapar do tédio, é a paixão universal. Esse ideal de vida é perfeitamente legítimo, sem dúvida. Só um puritano fanático poderia reprovar os membros de uma sociedade que quisessem dar descontração, relaxamento, humor e diversão a vidas geralmente enquadradas em rotinas deprimentes e às vezes imbecilizantes.

Mas transformar em valor supremo essa propensão natural a divertir-se tem consequências inesperadas: banalização da cultura, generalização da frivolidade, eu acrescentaria desprezo às raízes culturais e, no campo da informação, a proliferação do jornalismo irresponsável, da bisbilhotice e do escândalo.

É como se houvesse se quebrado a espinha dorsal das civilizações ou, para um dizer vegetal, é como se vivêssemos uma CULTURA HIDROPÔNICA, de raízes aéreas ou aquáticas, que desprezam a terra de onde vieram um dia.

Mas, repito agora, um pensamento indígena que ouvi no filme “Regresso”: “ O VENTO NÃO DERROTA UMA ÁRVORE QUE TEM RAÍZES FORTES “

 

O que se fez antes, pouco importa para grande parte das pessoas. Importa o agora.

A banalização das artes e da literatura, o triunfo do jornalismo sensacionalista e a frivolidade da política são sintomas de um mal maior que afeta a sociedade contemporânea: a ideia temerária de converter em bem supremo nossa natural propensão a nos divertirmos.

No passado, a cultura foi uma espécie de consciência que impedia que virássemos as costas para a realidade. Agora, atua como mecanismo de distração e entretenimento.

 

Na civilização dos nossos dias é normal e quase obrigatório a culinária e a moda ocuparem boa parte das seções dedicadas à cultura, e os “chefs” e “estilistas” terem o protagonismo que antes tinham cientistas, compositores e filósofos. Estrelas de televisão e os grandes jogadores de futebol exercem sobre costumes, gostos e modas a influência antes exercida por professores, pensadores e teólogos...

Não digo que isso seja ruim. Digo, simplesmente que é assim.

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“Uma coisa que a música me ensinou também foi ouvir, sempre, os que vem vindo”.

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